sexta-feira, 7 de maio de 2010

na chuva dos navios e comboios


olho para esquerda pela janela, do sofá onde estou sentado a escrever e vejo a serra da arrábida que ladeia com península de tróia a saída do rio para o atlântico!

começa a chover neste momento.


as cores do céu mudam progressivamente sob o manto acinzentado da chuva que avança vinda de norte e vai cobrindo todo o estuário! o movimento é suave e doce, aprazível aos amantes que num barco escutam o cantar da ondulação no casco e o telintar quase inaudível da chuva no deck. tudo se conjuga para momentos de puro encantamento espiritual, trazido da forma mais pura pelo universo, para todos os que apenas queiram “escutar”.


um navio cargueiro acaba de zarpar, de certeza para destinos longínquos e com mais certeza ainda, exóticos!


durante toda a manhã carregou os porões com cereais, que vindos até aqui num combóio, iniciaram viagem no centro do país onde em tempos, campos intermináveis de culturas, cobriam a paisagem, que ao sabor do vento, davam continuidade a um oceano que abraça terra. o combóio, esse, volta agora vazio...


as viagens, os destinos exóticos e longínquos, os navios que largam o porto comercial sem sabermos para onde vão, por vezes, talvez vezes demais, resultam em comboios que recomeçam a sua viagem sozinhos... em carris que se unem à vista do horizonte... mas vivem paralelos... à distancia de um braço esticado para outro, á proximidade de um toque de duas mão...

mas nunca se encontram!


por vezes cruzam-se num qualquer entroncamento, que em tempos viveu momentos de frenesim, com a chegada do combóio das 12.43. toda a aldeia perdida na imensidão da planície alentejana, crescia em dimensão para a chegada apoteótica do combóio.

mas mesmo assim, na proximidade de um entroncamento de vias, no quase erótico toque das linhas, os carris nunca se juntam!


e a interminável maquina metálica, carrega e volta a partir. leva consigo os cheiros e desejos de gente que nunca viu a imensidão do mar. gente que debaixo de um alpendre de telha lusitana, também escuta a chuva a cair. que vê as searas ganharem o brilho da vida. que à distancia indistinta dos carris, também sente o prazer da chuva que cai sobre os amantes no mar.

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