sexta-feira, 7 de agosto de 2009

o prazer do Viajante

o prazer do Viajante, "reside", passo o paradoxo, no valor dos conhecimentos que se vão adquirindo. sejam as pessoas e culturas com que nos cruzamos, as paisagens, os cheiros ou os sons do mundo!


nos anos de vida que já conto e não sendo muitos, tenho tido o privilégio de cruzar várias realidades, numa Viagem pelo tempo e pelas gentes que nele circulam.  Viajo não para ir a algum lado, mas simplesmente para ir! no metro olho à volta e tento adivinhar as vidas, as histórias por detrás de cada cara ou melhor, dentro de cada pessoa. são os estudantes que no inicio dos estudos, brincam entre si, com o simples atirar de papeis, ou no segundo ano de faculdade, vivem a utopia de mudar o mundo e salvar a floresta ou leem ávidamente um qualquer jornal de economia, com sonhos ligeiramente yuppies de um neo liberalismo que nos dias de hoje parece ser ainda mais fantasioso. é o velhote que tenta manter o animo apesar da conta da farmácia, mas grato pela proliferação de escadas rolantes que aparecem em cada esquina e subida. uma mulher com um fato de calça e casaco cinzento listado, que realça as curvas sensuais do corpo, aperta na cintura, e faz parecer existir vida por debaixo de a camisa branca. altiva, elegante, segura de si mesma, conflui em si os olhares dos homens que com o mesmo fato cinzento se resumem a ser iguais a todos os outros que trabalham na cidade, quase que indistintos. mas o cruzar de olhos momentâneo, com a mulher, mesmo que insignificante ou indelével, provoca uma descarga adrenalínica de auto estima e conversa para um dia inteiro com os colegas de escritório ou companheiros de ginásio! chega a ser confrangedor a previsibilidade de nós homens...


um jovem indiano olha por uma janela de uma carruagem que nada mostra a não ser a escuridão dos túneis, talvez pensando na namorada que ama mas que a a família não aprova. são os polícias que conversam entre si, mantendo uma "descontraída atenção" a tudo o que se passa à volta e provocando junto dos passageiros um sensação de segurança.


contrasta com a calma depois de almoço da uma ilha no sul, onde a população, quase toda dedicada à pesca ou ao marisco, já regressou do mar. não existem nem estradas nem carros, autocarros ou qualquer outro meio terrestre de transporte publico e o tempo é marcado pelo "barco da carreira" e pelo tempo que faz no mar! aldeia que vive a um ritmo próprio e a missa de domingo por vezes não acontece porque o mar, mesmo dentro de ria, não permite que a marinha traga o padre para a liturgia.


acordar de manhã num dia e escutar o som do carros dos bombeiros que sai em mais uma emergência do quartel que fica apenas aqui a uns metros. o avião que aterra na enigmática portela, que ora chega, ora precisa de mais um aeroporto, mas que vê os gigantes do ar a chegarem e partir todos os minutos.

deitar-me à noite no silêncio da ria formosa, com o cachimbo aceso e com um chá de menta numa caneca que fumega docemente na imensidão que envolve o barco.


dois mundos completamente diferentes, mas que vivem a apenas 2 horas e meia de distancia. as distancias geográficas mantêm-se mas os tempo encurtam-se ou dilatam-se ao gosto do viajante.


desde pequeno que tive a sorte de ter viajado muito por Portugal, com o meu avô!, Na altura que o Algarve ficava a pelo menos 5 horas de distância de Lisboa. saíamos cedo, parávamos em Alcácer do Sal, Torrão, Beja, Mértola até Vila Real de Santo António. em cada paragem, o meu avô parecia chegar a casa e ver os amigos de sempre! Sempre me fascinou como teria tantos amigos em tantos lugares!!! chegados a Vila Real, fazíamos uma rápida paragem em casa e íamos até à capitania, onde estavam os antigos pilotos da barra do Guadiana e onde o meu avô foi um dos últimos pilotos e durante quase 18 anos.

a viagem era um fascínio avassalador! as diferenças entre cada uma daquelas gentes, daquelas paisagens, da luz em cada região e em cada momento do dia, terminava em glória com a chegada no fim do dia à aldeia da Manta Rota, quando esta se resumia a umas quantas casas!


podemos viajar por muitas zonas geográficas diferentes e longínquas, mas a viagem está especialmente em nós mesmos! por vezes, basta fechar os olhos, ler um livro. sonhar.


ao longo dos anos tornei-me um viajante. viajei com a família, à boleia, de bicicleta, de moto, de jipe e de carro, de metro e de comboio, de avião, avioneta e balão, de barco e moto 4, a pé ou apenas sentado a olhar para o horizonte, ou quem sabe de olhos fechados a sonhar com a viajem que ainda não fiz.


como o vento, viajo sem parar. 

e é sobre isso que gostaria de partilhar, nas Histórias da Casa do Vento.

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