como o vento
que passa e se vai
que não se mede
que não se vê
que se sente
como um vento quente no deserto
como um vento húmido numa noite no mar
como um vento gélido numa montanha alta
sinto-me como o vento
um vento sem passado nem futuro
que corre incessante
sem destino
numa busca
numa fuga
que não vai nem vem
que procura uma razão de existência
que procura
procura
procura
procura
que venta sem sentido ou razão
que voa sem destino
que quer parar e não consegue
que por vezes traz chuva e chora
que por vezes sente falta dos sítios onde passou
das pessoas
das faces que tocou
que por vezes morre devagar em desespero
que por vezes ri
como uma trovoada de verão
poderosa e intensa
mas sempre passageiro
que não fica
não consegue ficar
não que não queira...
mas simplesmente não consegue ficar
e voa
venta
sem destino...
que procura na noite a calma dos elementos
que se revigora com o nascer do sol
vento que procura a mudança
que procura parar
vento que provoca e urge na sua passagem
um vento que leva as memórias de histórias que foram esquecidas
um vento que guarda em casa
todos aqueles que gosta
todos os que também andaram perdidos
ou se perderam
um vento que procura um filho que nunca encontra
um vento que foge de um filho que o prenda
um vento que não sabe para onde ir
nem para onde quer ir
um vento que não quer magoar com a mudança
mas morre com cada paragem
vento que procura os que se foram
que chora a saudade dos que já não pode abraçar
vento que queria voltar para trás...
vento que por vezes passa sem se aperceber
sem ser percebido
quase nunca compreendido
vento sem definição...
vento que nem a si se consegue encontrar
vento que busca incessantemente
por tudo sem saber o quê
vento que por vezes não consegue falar
não consegue cantar
não consegue sorrir
passa apenas.
para onde?
para onde irá o vento?