sábado, 5 de novembro de 2011

a_Normalidade

ultimo dia do ano... a olhar o tejo e a tentar ouvir gotan project. ainda não é meio dia e ideias e desideias inundam-me a mente, assaltando a paz de espírito que gostaria de sentir para terminar um ano que me foi particularmente difícil.


sempre amei paradoxos. por ironia do destino a minha vida tornou-se num paradoxo que por vezes me deixa soterrado em sentimentos ambíguos e muitas vezes... demasiadas vezes contraditórios!


sinto uma dislexia emocional numa razão sem fundamento, que por vezes me atola em sensações contraditórias... ou talvez não! talvez apenas mudem tão depressa que não consigo quase suster o momento. e o momento é tão célere que me parece viver dentro do mesmo. talvez na realidade eu viva em momentos diferente que se sobrepõem encadeados em si mesmos, tornando a minha realidade uma só e una mas sempre cheia de vidas paralelas. talvez algumas pessoas não tenham nascido para viver apenas uma realidade. talvez ninguém tenha a capacidade de viver apenas uma realidade e daí existirem tantos “desvios à norma” quando na norma já não existe como realidade mas apenas como conceito teórico para desnormalizar a realidade corrente de uma sociedade, que é apenas real. viva. pungente...


estou no décimo primeiro andar de uma torre que em si é um paradoxo. numa zona problemática da capital, foram construídas quatro torres de apartamentos, com uma vista soberba. para o Tejo e para os bairros sociais... o alcatrão, entrelaça-se em viadutos esparguetianos, em volta das imponentes torres passando por baixo, por cima e ao lado de mais um hipermercado, que está sempre cheio de gente em crise que não pára de consumir.


habituado a estar no mar, no barco onde vivo, olho pela janela e vejo os carros e pessoas passarem, como peixes num estranho aquário gigante.

habituado a estar no mar, no barco onde vivo, mergulho na altura do décimo primeiro andar, com um estranho torpor.

habituado a estar no mar, no barco onde vivo, indago num silêncio de um tango, onde pertenço...


“olhar” para o lado e observar o que se passa cadenciado à minha volta, tornou-se quase num modo de vida. de observar o mundo passar. de conseguir viver a vida. a minha. a dos outros, e sonhar.

neste momento vejo um jardim de uma das torres. religiosamente tratado. em quase dois meses que por aqui passo, nunca, em altura alguma vi, um único ser vivo por aqueles relvados! nem mesmo o jardineiro, que provavelmente para não destabilizar a quietude do lugar sagrado, virá durante a noite, de fato camuflado preparar o altar.

no seguimento da minha linha visual, depois da vedação do jardim, reforçada pelo alcatrão da estrada de mais um viaduto ou túnel, aparecem os canaviais, e hortas onde vivem sacos de plástico numa liberdade ao vento presos na ponta de uma cana. contentores azuis redondos de tampa preta, e mais sacos, antecedem mais um viaduto do canavial, antes dos prédios de habitação social, com uma vista ainda mais fantástica para o Tejo...


onde será que a norma está? onde pára a normalidade? existe a normalidade? ou será apenas mais uma criação conceptual para nos fazer realmente sentir fora dela mesmo?!?


segunda-feira, 4 de julho de 2011


de novo na noite...
por vezes cogito se terei algum problema com a escrita diurna ou se simplesmente assumo que dia se escreve por obrigação e na noite doce e quente se deixam as fadas e duendes saírem dos cantos escondidos da mente redonda para brincarem nas pontas dos dedos e tentarem passar os sonhos a letras e as letras a divagações mais ou menos criativas, dependendo da noite ser doce e quente ou agreste e fria, na solidão de um barco que se acompanha do som das amarras presas ao cais.

hoje dancei o dia com os meus monstros, saltitando entre a necessidade de trabalhar e uma mente inquieta que degenerava infindávelmente em cenários e suposições apocalípticas, tragédias e desgraças, diria... gregas, não fosse quase deselegante a tangência à realidade vivida numa terra que não são só ilhas! realidade essa que claramente tulhe a criatividade pseudo poética de qualquer criação estimulada pelos meus monstros pessoais.

mas enfim, passei aqui porque passei. podia ir ao facebook ( e até fui...) mas as linhas discorridas aqui têm um encanto diferente... sobrenatural!
aqui me torno num escritor por uns momentos efémeros de quem nunca é lido, mas vive no sonho de ser um dia!
sonho o sonho que se segue. vivo nos sonhos dos outros, histórias de encantar, vidas aladas quase sem nexo. em tempos convenci-me que seria talvez um anjo, destinado a passar na vida de alguém sem muito tempo ficar mas sempre provocando uma tempestade regeneradora e intensa!!!
noutra altura achei que seria o vento... que passava sem parar!
noutra altura passei por taberneiro amador, piloto de balões, navegador de oceanos sem fim.
hoje sei que vivo para amar! assim perdidamente! amar como se não houvesse amanhã!
amar cada vez mais e mais forte! com medos e alegrias, com tristezas e certezas incertas. mas sempre para amar! antes, agora e amanhã. amar, porque no amar está a essência da vida!
amar cada coisa e cada pessoa. porque amar é viver.
e porque quero amar, quero viver em ti! quero amar... tanto!!!
e como diria a minha poetiza favorita: ser poeta é... amar-te assim perdidamente.
e por isso amo!
e por isso te amo assim perdidamente!

e pronto, assim me vou com a noite.

(foto do meu afrincan brother Tony Manna. Vilankulos- Moçambique)

gosto da noite triste com fogo de artifício ao longe, que se reflecte no rio e me assusta a cadela, que entra em me faz companhia juntamente com um gin tonico, ou três ao quatro, mas ela sempre apenas uma que mantém resiliente e estóica no passar dos anos com um viajante que passa por aqui e ali, sem nunca parar tempo demais, que sabe sempre a pouco depois da partida, que foi antecipada no torpor da pressa de não ficar o tempo suficiente, porque naturalmente se estará melhor onde não estamos, mas que nos últimos minutos antes de zarpar se redescobrem encantos nunca antes vistos, ou perdidos na pressa de quem parte, sem ter dado o tempo suficiente para ficar.

huummmmmm, gosto das tristezas da vida que por tristes serem nos tornam capazes de gozar as coisas boas, pequenas, grandes ou assim assim, que tornam a vida tão sublime porque oferece às tristezas o fundamental papel de catalizador das alegrias que sem tristezas não existiriam ou pelo menos não seriam de forma alguma tão encantadoras e doces!

sou como o outro, o tal, aquele que disse ou talvez não: sou um homem simples. gosto de coisas boas!

gosto de quase tudo. gosto por aqui e por ali, sem limites do absurdo, barreiras do razoável ou expectável.

gosto porque gosto.

e quero gostar de tudo e mais coisa alguma. quero poder sorrir do que me desagrada por saber que vou gostar ainda mais depois. sempre mais.
e como sou um homem simples, a próxima será incontornavelmente melhor que a que passou. porque o que passou, bom ou menos bom, às vezes até mau, não é mais que o caminho necessário para gostar muito mais, e melhor, e mais forte e mais avassaladoramente da próxima.

e por isso gosto assim, perdidamente.

sem olhar para trás porque o que está à frente é indiscutivelmente melhor!

gosto sem preconceitos ou concepções prévias. gosto sem pensar no porquê, ou no que vai a seguir acontecer, se não for seguido do protocolo socialmente imposto. imposto... não gosto! não do imposto em si, mas do que com ele não fazem. ou seja, até gosto do imposto. mas gosto de imposto pelo que pode ser consequente. do que que posso um pouco mais além ir do imposto. do desafio de sempre ir um pouco mais além.

à regra, gosto de imprimir stress e ir mais longe. sem pensar muito se vou cansar-me e talvez não gostar. porque se tal acontecer, apenas basta mudar e gostar de outra coisa que resulta da experiência de fazer o que gosto. mesmo que daí nasça um gosto menos e por isso vou mudar para gostar mais.

gosto porque gosto.
e gosto porque gosto de gostar.
gosto sem precisar saber porque gosto.
gosto tanto.
e gosto de apenas gostar...
e continuar a gostar até não mais poder.
e esperar que quando esse momento chegar, possa gostar de cada instante.
gosto.
gosto..
gosto...


domingo, 3 de julho de 2011

Um ano! e um mês quase... amarga ausência!
Vou voltar. Espero pela noite, carregada pela maré no Tejo!
Até Já

sábado, 5 de junho de 2010

4.50 da madrugada quente e húmida de uma noite desiludida pela
expectativa da vida. ...
Derreto languidamente no torpor etílico do vinho branco com gelo e
limão- Tem nome alemão como convém mas apenas me faz lembrar clister... Não sei se por causa da minha amiga Cristina ou se alguma tendência gay mal manifestada...
Um ET em terra! É o que sinto ser na sua insustentável leveza de
kundera.... No pesado desajuste de estranheza de uma sociedade que
admira e venera as alternativas formas de vida de quem opta por estar
a margem, mas mais ainda sem realmente desajustado de um mundo com o
qual não se identifica com o qual se desliga a cada segundo!

Desamores e amores em sentido inverso e letal,são a constante informal
e disfuncional de uma vivência de inexperiências infundadas de uma
realidade que se calhar apenas não existe....
Fecho os olhos. Reviro-os e deixo-me embalar ao som de um estranha
forma de jazz que me deixa estonteado, inebriado, ao ponto de quase
cair da cadeira onde firmemente me sento à beira de um abismo irreal
onde o "agora" se funde e se fode numa guerreira harmonia desasjustada... Tão desajustada quanto eu pareço ser aos olhos dos outros!

Deixo-me ir, embriagado nos sons da vida acompanhados pelas notas de
uma música disléxica mas doce e envolvente. Deixo o orgasmo espiritual vir-se nos sentimentos de impotência perante os inevitáveis casos da vida que pareço atrair sem qualquer pudor ou preocupação socio-econômica, político-religiosa!

Vivo no limbo da realidade com Magia! Onde o mundo se transforma e
recria numa roda de energia e luz!
Onde os iluminados são apenas seres estranhos e desajustados! 
Onde o conforto material se impõe à felicidAde espiritual onde a matéria vale muito mais que o espirito!
Onde a merda se sobrepõe ao sonho.
Onde o Dow J vale mais q a luz.
Onde o horário frenético se monta na simplicidade.
Onde todos se fodem com medo de serem fodidos.
Onde ninguém se mostra para não ser vistos numa exposição permanente de vaidades vãs...
Estou cansado... Farto...
Vejo o meu tempo chegar a um fim ilimitado de
paradoxos insolúveis. Inevitáveis e despropositados!
Vejo-me preso nos pré-conceitos de uma sociedade q não escolhi ... Que
me reprime... Q me quer castrar numa sexualidade mística de uma mulher casada a viver numa gaiola dourada!
Sou livre como o vento!
Sou leve e universAl...
Sou eternamente só...

Deixo o vinho branco libertar o Império dos sentido que me faz viver e
penso apenas como hei-de voltar para "casa"...
Acabou apenas mais um dia..
Um dia posso ter sorte e acaba o resto!!!
Nos mares perdidos do Sul...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

na chuva dos navios e comboios


olho para esquerda pela janela, do sofá onde estou sentado a escrever e vejo a serra da arrábida que ladeia com península de tróia a saída do rio para o atlântico!

começa a chover neste momento.


as cores do céu mudam progressivamente sob o manto acinzentado da chuva que avança vinda de norte e vai cobrindo todo o estuário! o movimento é suave e doce, aprazível aos amantes que num barco escutam o cantar da ondulação no casco e o telintar quase inaudível da chuva no deck. tudo se conjuga para momentos de puro encantamento espiritual, trazido da forma mais pura pelo universo, para todos os que apenas queiram “escutar”.


um navio cargueiro acaba de zarpar, de certeza para destinos longínquos e com mais certeza ainda, exóticos!


durante toda a manhã carregou os porões com cereais, que vindos até aqui num combóio, iniciaram viagem no centro do país onde em tempos, campos intermináveis de culturas, cobriam a paisagem, que ao sabor do vento, davam continuidade a um oceano que abraça terra. o combóio, esse, volta agora vazio...


as viagens, os destinos exóticos e longínquos, os navios que largam o porto comercial sem sabermos para onde vão, por vezes, talvez vezes demais, resultam em comboios que recomeçam a sua viagem sozinhos... em carris que se unem à vista do horizonte... mas vivem paralelos... à distancia de um braço esticado para outro, á proximidade de um toque de duas mão...

mas nunca se encontram!


por vezes cruzam-se num qualquer entroncamento, que em tempos viveu momentos de frenesim, com a chegada do combóio das 12.43. toda a aldeia perdida na imensidão da planície alentejana, crescia em dimensão para a chegada apoteótica do combóio.

mas mesmo assim, na proximidade de um entroncamento de vias, no quase erótico toque das linhas, os carris nunca se juntam!


e a interminável maquina metálica, carrega e volta a partir. leva consigo os cheiros e desejos de gente que nunca viu a imensidão do mar. gente que debaixo de um alpendre de telha lusitana, também escuta a chuva a cair. que vê as searas ganharem o brilho da vida. que à distancia indistinta dos carris, também sente o prazer da chuva que cai sobre os amantes no mar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

esta noite foi povoada de monstros e medos.

eu conseguia contextuáliza-los que eram apenas isso! mas teimosamente não desapareciam. levantei-me e fui à casa de banho. deitei-me e eles continuavam ao meu lado. levantei-me novamente e fui à varanda e vi o rio sado com os rebocadores fundeados no meio da baía, à espera do mau tempo. estava frio e voltei para a cama. mas eles continuavam abraçados a mim. tentei racionalizar e nada.

estranho como consigo ter a percepção dos medos e mesmo assim não consigo livrar-me deles...

tentei abraçar em mim o sentimento puro e suave de amor... e nada!


abracei aquela “mulher” com o meu pensamento . senti o toque do seu corpo, imaginei os olhos esmeralda, provei o cheiro da sua pele...


mas logo de seguida eles estavam ou talvez apenas continuassem colados a mim.


começo a pensar que os meus monstros até nem são tão grandes como isso. penso nas dificuldades que ela sente em apenas conseguir sobreviver a eles. em todos os dias travar uma batalha de uma guerra que parece não ter fim...


percebo agora o porquê de tanto desgaste nestes confrontos. as noite são campos de batalha e dor em vez de um revigorante descanso!!!!


dou agora e depois de remembrar esta experiência, um novo valor a esta mulher. que continua a combater. por ela. e no fundo por mim. o seu caçador de monstros ou talvez apenas um agitador de monstros...



2 de dezembro de 2090, no avião para Basel